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O DIA QUE OS PRODUTORES DECIDIRAM PARAR


31/07
Por: José Luiz Tejon Megido
O DIA QUE OS PRODUTORES DECIDIRAM PARAR

A princípio muitos não acreditaram e outros ainda, que achavam que comida, bebida, energia, fibras, borracha e mesmo as pitadas do cigarrinho vinham das fábricas, não deram muita importância ao fato. Mas logo nos primeiros dois dias seguintes, a escassez já começava a aparecer, pois os mais informados correram para criar estoques especiais em suas casas, e outros alugaram galpões para lucrar no inevitável mercado da escassez que tomaria conta do planeta nos próximos meses tenebrosos.

Países com capacidade de armazenagem determinaram um plano emergencial de racionalização total dos grãos, dos produtos resfriados e congelados. Alguns dias mais o suprimento de matérias-primas, vegetais e animais, começou a desaparecer e a agroindústria processadora parou, dispensou funcionários.

Os fornecedores de toda  cadeia produtiva do agronegócio também pararam. Os insumos não tinham quem comprasse, as máquinas agrícolas estacionaram nos pátios das indústrias, os bancos que imaginaram poder fazer cobranças judiciais dos produtores, foram imediatamente surpreendidos por uma inadimplência instantânea de setores com contas muito mais volumosas do que os produtores.

As grandes tradings, as marcas globais, as gigantescas redes do varejo, as organizações privadas de porte que movimentam intracompany e intercompany cerca de 2/3 do comércio global estavam atônitas e não sabiam o que fazer. O sistema financeiro entrava em colapso. Os países que tem no PIB do agronegócio parte significativa de suas contas entraram imediatamente em colapso político.

O Brasil, economia dependente do agronegócio, que determina o superávit de seu balanço de pagamento e que alavanca toda a riqueza das cidades, foi tomado pelo desespero. Em seguida os macros setores da mineração e do petróleo estancaram suas extrações, os depósitos de diesel, gasolina e etanol ficaram abarrotados, pois o mercado inteiro parou, e porque o produtor parou, o mundo inteiro parou.

O caos, os saques, o crime, bandos de assaltos se organizavam e a polícia, as forças armadas, com um rancho limitado, escolhiam e selecionavam pontos muito específicos de defesa e de tentativa de manutenção de alguma possível ordem. Os religiosos reuniram fiéis, e as orações tomavam conta do planeta. Com o fim da produção rural foram feitas tentativas de grupos armados e de organizações urbanas de tomarem as propriedades rurais e passarem a produzir. Porém, essa ação se mostrou totalmente inócua, pois agropecuária só faz quem sabe, tem dom, vocação, e faz porque aprendeu a fazer, e continua fazendo nem sabendo muito bem por que, os produtores simplesmente fazem.

Na greve geral do campo, no lugar do milho veio mato, com o mato uma primeira rebrota de plantas nascidas dos grãos espalhados, formavam não mais um pé de milho, mas uma espécie deformada, uns com alguma espiga outros sem, a soja consumida por ervas daninhas, algodão ralo, aração diminuiu, os animais minguaram, e o mundo assistia pela primeira e única vez um verdadeiro fim do mundo. Não era por bombas atômicas, ou meteoros, ou fim do petróleo, ou falência de sistemas financeiros, nem mesmo por uma inesperada doença devastadora.

O verdadeiro fim do mundo vinha agora, porque os produtores rurais, os cerca de 1,3 bilhão existentes, estavam indignados e decidiram numa manifestação parar e não fazer nada, por pelo menos seis meses. Eu fiquei tomado por um terrível pavor, e a morte por fome seria inexorável, antecedida por agressões e violência inimagináveis.

Pensando, analisei  o ar é coisa vital, não vivemos mais do que poucos minutos sem. Porém, esse oxigênio da vida está distribuído para todos, independente do esforço de alguém. A natureza provê. Deus dá a água, não vivemos sem. Podemos passar alguns dias. Porém, curiosamente, a natureza provê. Deus deu um planeta água. Mais aqui do que ali, mas, de verdade, na história humana até aqui, água tem sido bênção gratuita. Não mais será, porém tem sido.

Alimento, comida, roupas, podemos viver sem, alguns poucos dias a mais do que a falta da água, porém comida, bebida, alimentos, a natureza oferece as condições, mas se o ser humano não trabalhar, Deus não consegue sozinho dar. Foi então, no meio de um terrível pesadelo, numa angústia de destruição e fim do mundo, que o despertador do meu rádio relógio soou. Acordei, aquilo era um sonho. Sonho horroroso, tormentoso. E logo agradeci.

Meu Deus, sem esse pessoal do agronegócio, sem os cientistas, pesquisadores, tecnologia, produtores rurais, e sem o trabalho diuturno e de amor desse pessoal, não haveria possibilidade alguma de vida na terra. Ainda bem que nunca houve um dia de paralisação geral dos produtores rurais. Mesmo quando eles saem para reclamar, nas estradas, cidades do interior ou nas avenidas de Paris, lá nas suas fazendas o trabalho não para. As plantas continuam florescendo, os animais continuam vivendo e sendo alimentados e a vida não cessa um minuto de se exercitar. Ou seja, o produtor rural não consegue parar, pois a vida em seu entorno nunca para.

Enquanto me levantava aliviado, ouvia no rádio do criado-mudo da cama: o agronegócio foi o único setor que gerou crescimento no Brasil, e os demais segmentos que apresentaram números positivos foram em decorrência do setor, como máquinas e caminhões e bens de produção. Agora, notícias do futebol. Bom dia produtores rurais: que a ficção jamais possa vir a ser real.

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Referências

www.agricultura.gov.br
Ministério da Agricultura - Portal da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento

www.embrapa.gov.br
Embrapa - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária

www.ital.sp.gov.br
Instituto de Tecnologia de Alimentos

www.alimentosprocessados.com.br
Alimentos Processados

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