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Substâncias presentes nos alimentos funcionais


17/07
Por: Décio Luiz Gazzoni, Miguel Alves Pereira Jr. e Guilherme Julião Zocolo

Alimentos funcionais são aqueles que, além de nutrir, são benéficos à saúde e não estimulam ou ativam substâncias que danifiquem o metabolismo de quem os ingere. Sem a pretensão de esgotar o assunto, alinhavamos a seguir alguns exemplos de substâncias contidas em alimentos funcionais e suas propriedades medicinais.

Terpenos

São substâncias encontradas em frutas, soja e outros grãos. São antioxidantes, protegendo os lipídios e os fluídos corporais dos radicais livres (oxigênio reativo, hidroxilas, peróxidos e radicais superóxidos). Estudos médicos demonstraram a eficiência de terpenos na redução dos riscos de câncer de mama, pulmão, cólon, estômago, próstata, pâncreas, fígado e pele, entre outros (bit.ly/3pL69WJ).

Quando ocorre uma mutação em um gene oncógeno (causador de câncer), as células sintetizam uma proteína com fisiologia anormal, que pode se constituir em um fator de crescimento, ou interferir na atividade de uma enzima promotora do crescimento celular, que sedividem agressiva e anormalmente, formando o tumor. As reações químicas envolvidas com o crescimento celular são reguladas por enzimas e a ação anticancerígena dos terpenos ocorre pela redução da atividade dessas enzimas, evitando a proliferação desordenada das células (bit.ly/3D9W09b).

Os terpenos mais conhecidos pertencem são os carotenoides e limonoides. Os carotenoides estão presentes em alimentos com pigmentação amarela, laranja ou vermelha (tomate, abóbora, pimentão, laranja). Seus principais representantes são os carotenos, precursores da vitamina A e o licopeno. Os limonoides (δ-limoneno, pineno, eucaliptol) se encontram nas cascas de frutas cítricas, protegendo o tecido pulmonar, prevenindo determinados tipos de câncer e fortalecendo o sistema imunológico (bit.ly/43AQ7xj). O álcool perílico (encontrado em cerejas) tem estrutura química parecida com o limoneno, possuindo atividade anticancerígena cinco vezes mais potente que este composto (encr.pw/oG4D7).

O arroz “Golden Rice” possui elevado teor de β-caroteno, auxiliando no combate à cegueira por deficiência de vitamina A. Crianças que ingerem uma quantidade adequada de vitamina A previnem doenças como a xeroftalmia (dessecamento dos dutos lacrimais) e querotomálacia (ulceração da córnea).

 

Fenóis

            Os fenóis são antioxidantes (encr.pw/7WNPa) encontrados em vegetais de cor roxa, azul ou violeta (uvas, cerejas e berinjelas). Possuem atividade anti-inflamatória, previnem a aglomeração de plaquetas sanguíneas e neutralizam a ação de radicais livres ganismo. Protegem o DNA e os lipídios, interrompendo processos potencialmente carcinogênicos. Os chás verdes, ricos em polifenóis, ajudam na prevenção de certos tipos de tumores e doenças cardíacas.

            Entre os fenóis, encontramos os flavonoides como flavonas e isoflavonas, presentes na soja e em produtos dela derivados (l1nk.dev/SiCED), bem como em frutos cítricos e outros alimentos. A camomila é rica em apigenina, com efeito analgésico (encr.pw/dFJdK). A ação de compostos como a diosmina e a hesperitina, presentes nos frutos cítricos, favorece a atuação da vitamina C no organismo (l1nq.com/sWdeL).

            Os flavonoides possuem propriedades antialérgicas, antinflamatórias, melhoram a ação do sistema imunológico, regulam a pressão arterial, protegem o sistema vascular, em especial os vasos de menor calibre.

            Existem certos tumores que estimulam a acumulação de compostos conhecidos como poliaminas, os quais contribuem para a proliferação descontrolada de células. Os flavonoides inibem a produção dessas poliaminas, mitigando a proliferação celular anormal (l1nq.com/zjGtO).

As isoflavonas são abundantes na soja, e bloqueiam enzimas que promovem crescimentos tumorais. A genisteína e a daidzeína atuam como hormônios (fito-estrógenos) e vêm sendo utilizados na reposição hormonal de mulheres em pré e pós-menopausa (l1nq.com/hKiuD). As isoflavonas se ligam aos β-receptores hormonais, que são diferentes dos principais receptores dos estrógenos (α-receptores).

O interesse pelas isoflavonas decorreu da redução dos teores do LDL-colesterol, responsável pela obstrução dos vasos sanguíneos, sem afetar o HDL-colesterol, que possui ação benéfica no organismo (l1nq.com/Qa5NA). Foi observado que as isoflavonas bloquearam a ação do estradiol, inibindo a carcinogênese mamária (encr.pw/hEQBj), assim como bloquearam a testosterona, reduzindo o risco de câncer de próstata (go.nature.com/46bJzqT). Outro benefício dos flavonoides é o fortalecimento dos tecidos conectivos do organismo (encr.pw/6PtqN).

 

Tocoferóis e tocotrienois

São encontrados em sementes e partes verdes das oleaginosas. O α-tocoferol, é encontrado nos cloroplastos enquanto os homólogos β, γ e δ são encontrados no citoplasma celular. Os tocotrienóis demonstraram capacidade de inibição do crescimento de células cancerígenas (l1nq.com/lCRnN). Conhecidas como vitamina E, possuem efeito inibitório dos processos oxidativos de lipídios sendo sua única fonte os vegetais que os sintetizam (l1nq.com/ZbdID).

 

Fibras (oligossacarídeos)

As fibras são sustâncias com alto peso molecular, encontradas em grãos (arroz, soja, trigo, aveia). Possuem função importante na regulação do processo digestivo, no sequestro e na excreção de ácidos biliares, na redução do LDL-colesterol (encr.pw/94qMc) e na redução da incidência de câncer colo-retal, impedindo a metástase (l1nq.com/068zR). A β-glucana, encontrada na aveia, tem ação comprovada na redução do colesterol, diminuindo sua absorção pelo organismo, enquanto a quitosana captura e excreta gorduras, também reduzindo o LDL-colesterol. A linhaça contém lignana, que possui as propriedades de estimular a imunidade e reduzir o LDL-colesterol.

 

Omega-3 (DHA e EPA)

São ácidos graxos polinsaturados, precursores de substâncias com ação anticoagulante, como prostraglandinas e leucotrienos (encr.pw/yTlwK). São encontrados em atum, salmão, arenque, sardinha e bacalhau, no óleo de canola e, em menores concentrações, no óleo de soja e em castanhas. Existem produtos enriquecidos com os ácidos graxos ômega-3, como leite longa vida, leite em pó e ovos.

Provocam a redução da agregação plaquetária, da pressão sanguínea, da viscosidade do sangue, da hiperplasia vascular e das arritmias cardíacas. Em doses adequadas, aumentam a sobrevida plaquetária e o funcionamento dos beta-receptores cardíacos. Reduzem os níveis de colesterol e de triglicerídios no sangue e possuem efeito anti-inflamatório (l1nq.com/6erF3). O ômega 3 possui atividade oxidante (l1nq.com/NnN3g), sendo recomendado consumi-lo associado a antioxidantes, como a vitamina E.

 

Outros fitoquímicos

Existem outros produtos do metabolismo secundário dos vegetais, presentes nos alimentos, com propriedades úteis. Entre eles, podemos citar os compostos sulfurados como a aliina e a alicina e o sulfeto e bissulfeto de alila, encontrados em alho e cebola. Possuem atividade bactericida e fungicida (encr.pw/Jnq5u) e, entre os benefícios de sua ingestão, estão a redução do teor de triglicerídios e de colesterol (l1nq.com/rgQWs), a redução da pressão arterial, a atividade antiinflamatória e a proteção às enzimas hepáticas (encr.pw/DvocC).

Também são encontrados compostos nitrogenados como o indol 3-carbinol e o sulforafano, presentes nas crucíferas (couves, repolho, brócolis), que possuem ação anticancerígena (l1nq.com/sFhFB) e estimulam a produção de determinadas enzimas vitais.

 

Alimentação e saúde

            Há uma estreita associação entre a forma como nos alimentamos e a nossa saúde. Alimentos refinados e ultraprocessados sofrem sérias restrições, devidos às perturbações metabólicas, bioquímicas e fisiológicas que causam.

Estudos demonstraram problemas causados por alimentação inadequada, associada ao sedentarismo, no funcionamento das mitocôndrias. Durante a fosforilação oxidativa normal, de 0,4 a 4,0% de todo o oxigênio consumido é convertido em radicais livres superóxidos, no interior das mitocôndrias. O superóxido é transformado em peróxido de hidrogênio (H2O2) pela enzima superóxido dismutase. O H2O2 é convertido em água pela glutationa peroxidase (uma das principais enzimas antioxidantes do corpo) ou pela peroxirredoxina III.

            No entanto, quando essas enzimas não podem converter radicais livres de superóxido em H2O com rapidez suficiente (ou quando a geração de superóxido aumenta muito), estes se acumulam nas mitocôndrias, ocasionando dano oxidativo. Nesse caso, as mitocôndrias geram ATP acima da capacidade de consumo das células. Em consequência, os níveis de ATP permanecem altos com pouca rotatividade. Com a baixa demanda de ATP, ocorre uma concentração excessiva de elétrons, gerando radicais livres. Essa elevada concentração excede a capacidade do sistema de defesa antioxidante, oxidando os lipídios nas membranas mitocondriais, ocasionando diversos distúrbios que podem redundar em graves problemas de saúde.

 

Dieta saudável

O índice glicêmico (ig) foi desenvolvido s para medir como os alimentos que contêm carboidratos afetam o teor de glicose no sangue. O ig usa uma escala de zero a cem, sendo o ig cem a glicose pura. Alimentos com alto ig (geralmente, mais de setenta) são rapidamente digeridos e absorvidos, causando elevações rápidas na taxa de açúcar do sangue, o que, por sua vez, desencadeia um aumento no nível de insulina, o hormônio responsável por tirar a glicose da corrente sanguínea e levá-la para ser usada nas células.

Alimentos com baixo ig (em geral, com valores de um a 55) são digeridos mais lentamente, produzindo aumentos graduais nos níveis de açúcar no sangue e insulina. Alimentos com ig entre 56 e 69 são considerados “médios” e, acima de 70, devem ser evitados.

Em uma dieta saudável, um quarto das calorias provém de vegetais com baixo índice glicêmico, como vegetais sem amido (por exemplo, aspargos, alcachofra, abacate, brócolis, repolho, couve-flor, aipo, pepino, verduras, cogumelos, pimenta, tomate, cebola, espinafre, abóbora-de-verão, abobrinha).

Também inclui o consumo moderado (1% das calorias diárias) de frutos do mar; baixo consumo (menos de 1% das calorias diárias) de carne e derivados; baixo consumo (menos de 1% das calorias diárias) de produtos lácteos; alto consumo de gorduras ômega-3; e alta proporção de gordura monoinsaturada em relação à saturada.

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Referências

www.agricultura.gov.br
Ministério da Agricultura - Portal da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento

www.embrapa.gov.br
Embrapa - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária

www.ital.sp.gov.br
Instituto de Tecnologia de Alimentos

www.alimentosprocessados.com.br
Alimentos Processados

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